sábado, outubro 10

Série - Coisas de Mãe (IV)

Conversas à mesa - em Agosto de 2009


À volta da mesa, depois do almoço. Somos muitos: grandes (uns adultos e outros a caminho disso), médios, pequenos e bebés (sim, também conversam…). Fala-se do futuro. Futuro imaginado, desejado para cada um deles. Desejado por nós, os grandes já adultos, que os olhamos daqui do futuro que é o deles. Eles (todos), entrando na conversa. Animados com a ideia de ter um futuro desejado por alguém. E como é importante ter quem deseje um futuro para nós e nos projecte, qual foguetão, numa ida e vinda rápida ao mesmo. Os futuros estão ali, em volta da mesa, nos risos trocistas e nos olhos brilhantes que dizem: “E se pudesse ser verdade?”. Mil futuros que se coordenam, se encontram lá para a frente no tempo e se transformam em histórias de poder continuar juntos. E assim se tecem desejos.
O futebolista, imaginado a partir dos fabulosos pontapés que dá numa bola minúscula, com o seu pé pequeno e gorducho de bebé de ano e meio; o alpinista, assim imaginado porque se passam tardes inteiras a apanhá-lo suspenso no ar ao subir (ou melhor, descer) as rochas da praia; o médico, profissão que saltou uma geração, e se deposita naquele que achamos tender para as notas brilhantes; o surfista profissional, apresentador de um programa desportivo e secundado pela artística fotografia da prima mais velha; o político, para aquele que ainda não se revelou bem para além de ser um exímio falador aos dois anos; o gestor para o jogador ímpar de entre todos; um lugar, algures na comissão europeia, para a catraia que gosta de mandar; o advogado, porque toda a família precisa de um e tem de ser um que siga as pisadas dos pais; a pintora, agora a mais sensível e futura criadora de ilusões em tinta; o cantor, não porque cante no presente, mas porque nos enche a alma (e o cérebro) a chamar pelo pai; o “chef de cuisine” para o menino sonhador cuja sensibilidade nos encherá a vida de aromas e sabores e finalmente, mas não por fim, a escritora, que tanto brinca com as palavras, a atribuição da responsabilidade de as escolher, certas e certeiras e por no papel histórias de cada um e todos nós.
Conversas. Felizes. Daquelas que se têm com quem gosta de conversar. E como são importantes os sonhos partilhados. E como é importante ter quem sonhe para nós e ter com quem sonhar o futuro.
Obrigada: Catarina (fotografa), Henrique (surfista), Gonçalo (médico), Maria (escritora), Mateus (gestor), Afonso (advogado), Mariana (pintora), Rita (comissão europeia), Vasco (”chef- de-cuisine”), Francisco (cantor), Duarte (político), Miguel (alpinista) e João Miguel (futebolista) por existirem na minha vida.

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