segunda-feira, outubro 3

O João Miguel fez 4 anos

O meu sobrinho mais novo fez 4 anos. No regresso da festa lembrei-me deste texto que escrevi no verão de 2009. E aqui fica especialmente como uma homenagem aos meus pais que deixaram em nós a marca de ser uma família grande e uma grande família. Parabéns, João.


A propósito da felicidade de pertencer a uma família grande e a uma grande família. A propósito também da necessidade de termos quem nos sonhe na vida, quem nos projecte no futuro e quem, assim, nos guie nos afectos e nos desejos.

Este texto, escrevi-o numa tarde de Agosto, em férias familiares. Surgiu como relato de uma conversa no final da refeição. Uma daquelas conversas que só é possível ter no seio de uma família grande, que demora à mesa e tira prazer de falar enquanto se come. Uma conversa, só possível no seio de uma grande família em que existe o hábito da partilha.

Esta conversa fez-me pensar o quanto é importante para uma criança, poder encontrar um espaço onde alguém a sonhe no futuro. Desde mesmo antes de nascer. A ideia de vida futura, criada por alguém significativo e oferecida a alguém com significado é um dom inigualável. Destas projecções, desejos e sonhos, nasce o caminho que cada um de nós seguirá (mesmo que não seja realmente igual ao pensado). Sem desejo, projecção ou sonho, as crianças não encontram um espaço onde se revejam, onde se observem, onde possam medir as suas acções e ter ecos dos seus pensamentos.

Na vida de cada criança, o papel dos adultos de referência é emprestar-lhes os seus pensamentos, os seus sentimentos e os seus desejos de futuro. Para que elas possam criar o seu próprio pensamento, sentimento e desejo de crescer. Os adultos são os "ecos" que não repetem, os espelhos que devolvem imagens diferentes e que assim transformam sinais em vida partilhada

"À volta da mesa, depois do almoço. Somos muitos: grandes (uns adultos e outros a caminho disso), médios, pequenos e bebés (sim, também conversam…). Fala-se do futuro. Futuro imaginado, desejado para cada um deles. Desejado por nós, os grandes já adultos, que os olhamos daqui do futuro que é o deles. Eles (todos), entrando na conversa. Animados com a ideia de ter um futuro desejado por alguém. E como é importante ter quem deseje um futuro para nós e nos projecte, qual foguetão, numa ida e vinda rápida ao mesmo. Os futuros estão ali, em volta da mesa, nos risos trocistas e nos olhos brilhantes que dizem: “E se pudesse ser verdade?”. Mil futuros que se coordenam, se encontram lá para a frente no tempo e se transformam em histórias de poder continuar juntos. E assim se tecem desejos.

O futebolista, imaginado a partir dos fabulosos pontapés que dá numa bola minúscula, com o seu pé pequeno e gorducho de bebé de ano e meio; o alpinista, assim imaginado porque se passam tardes inteiras a apanhá-lo suspenso no ar ao subir (ou melhor, descer) as rochas da praia; o médico, profissão que saltou uma geração, e se deposita naquele que achamos tender para as notas brilhantes; o surfista profissional, apresentador de um programa desportivo e secundado pela artística fotografia da prima mais velha; o político, para aquele que ainda não se revelou bem para além de ser um exímio falador aos dois anos; o gestor para o jogador ímpar de entre todos; um lugar, algures na comissão europeia, para a catraia que gosta de mandar; o advogado, porque toda a família precisa de um e tem de ser um que siga as pisadas dos pais; a pintora, agora a mais sensível e futura criadora de ilusões em tinta; o cantor, não porque cante no presente, mas porque nos enche a alma (e o cérebro) a chamar pelo pai; o “chef de cuisine” para o menino sonhador cuja sensibilidade nos encherá a vida de aromas e sabores e finalmente, mas não por fim, a escritora, que tanto brinca com as palavras, a atribuição da responsabilidade de as escolher, certas e certeiras e por no papel histórias de cada um e todos nós.

Conversas. Felizes. Daquelas que se têm com quem gosta de conversar. E como são importantes os sonhos partilhados. E como é importante ter quem sonhe para nós e ter com quem sonhar o futuro."

Obrigada: Catarina (fotografa), Henrique (surfista), Gonçalo (médico), Maria (escritora), Mateus (gestor), Afonso (advogado), Mariana (pintora), Rita (comissão europeia), Vasco (”chef- de-cuisine”), Francisco (cantor), Duarte (político), Miguel (alpinista) e João Miguel (futebolista) por existirem na minha vida.

terça-feira, setembro 27

Assim...


Ilustração de João Rodrigues

quarta-feira, agosto 24

Hoje


Mesmo escrevendo, há coisas que um espanta-espíritos não é capaz de levar para longe.
E assim, ficam em nós. Guardadas.

sexta-feira, junho 24

domingo, abril 3

Dúvida


Quanta distância cabe num espaço de poucos centímetros?

segunda-feira, março 28

Instantâneo Instante

Instante.
Visão fulminante da vida
Vida espelhada na areia
Momentos ternos, vibrantes da minha história

Instante.
Guardado na imagem
que me transporta, me guia e me devolve um pouco de mim

Num gesto só

Num gesto te aproximas

Te aninhas e me aninho no teu calor

Num gesto

Te inquietas e agitas

Te afastas e te perco


Num gesto

Estamos perto

Pele e pelo

E deixo que recebas o meu cansaço, a minha inquietação

E, generoso, me concedes esse olhar brilhante e incerto.

Num gesto apenas, fico livre e tu preso no meu gesto de te prender.


sábado, março 5

Um recanto na minha vida.

Em ti guardo um recanto da minha vida,

um segredo de distância,

uma enseada de paz.

um murmúrio de impossibilidade.

E no teu sorriso franco fica a brisa que te envio.

E na cumplicidade do segundo

Luz a certeza de que este recanto existe mas que há esquinas que não se dobram.

Porque quando se arruma se descobre a vida.

Hoje foi dia de arrumações cá em casa. Há alturas em que me dá para isto... espalhei mil desenhos pelo chão e decididamente tentei escolher aqueles que ficariam guardados, qual album de vida. Desenhos de uma e desenhos de outra... Tantos!!!... Um a um, as cores, as figuras, as datas, as histórias, deixam-nos nas mãos a nossa própria vida, os nossos momentos. Contam histórias, deixam-nos rever a nós mesmos e reconhecer a continuidade que a vida tem e também a mudança que faz em nós. Havia desenhos de tudo... delas mesmas, da família, dos amigos, das fantasias e sonhos... desenhos de nada e desenhos que só as mentes das duas sabem porque sairam para o papel. Alguns desenhos tinham notícias. que, qual pedaços de vida, nos lembraram mil coisas que fizémos juntos. Um deles tinha uma notícia verdadeiramente importante que partilho convosco, porque me parece que resume a verdadeira importância da vida. A notícia, deu-a a Catarina, aos 4 anos na escola: "Hoje a minha mãe viu um lagarto verdadeiro"!. Querem notícia mais importante do que esta?

domingo, fevereiro 6

Ligação

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Adoro montar a cavalo. O cheiro, os sons, a energia que se vive é um bem que enche a alma. Há algo de mágico nas horas que voam perto deles. Em tudo... desde o olhar atento de um cavalo, ao gesto que os sossega ou assusta, ao movimento que os mantém para a frente ou os confunde. Tudo à volta dos cavalos se faz de paz e delicadeza. Tudo se faz de uma ligação que não se explica, não se ensina mas que se vive e se aprende. É uma aprendizagem fabulosa, esta de conseguir que o mais pequeno gesto, o movimento mais subtil se torne numa ligação entre homem e cavalo. É mágico quando o que nos sai das mãos como um sopro, uma brisa, tem o poder de nos levar... a voar. E, sendo longo o caminho, sendo raros estes momentos, não há como este sentimento de que pelo menos aquele gesto nos ligou, num passe de ilusionismo, à alma de um cavalo.

sábado, janeiro 1

A JUSTIÇA EM PORTUGAL AO LONGO DE 2010 EM REVISTA!!



Aos 11mn e 38 seg
Para recordar sempre o exemplo que nos deu e o muito que nos deixou. Para sempre, Pai.

1-1-11 (2)

1-1-11

Hoje é dia 1.
Mês 1. Ano que termina num duplo"1". ~
Hoje é dia de inicio. De partida.
Ontem, entre amigos, numa tarefa de transição de ano tirei uma carta de um baralho que me deixava nas mãos a palavra "Renascimento". No "1" e no "Renascimento" encontro a procura de ser mais eu, de ser mais "o verdadeiro 1" que tantas vezes se esfuma no correr dos dias. Esse é o meu maior desejo para este ano que hoje estreamos. Um ano que começa com uma série direitinha de números, todos iguais, todos alinhados numa frase que diz: "Sejamos cada vez mais "1", nós mesmos, encontrando a paz e a serenidade de sabermos ver a felicidade em cada momento de vida. E para isso há que olhar e ver que numa série alinhada de "1", pode estar o sinal de que tudo vai correr bem.

Um ano Feliz.

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