domingo, novembro 29

Pairar sobre Lisboa

Ontem de manhã cedo acordei com o apito de um navio.

Lá em baixo, no Tejo, imaginei um enorme barco a passar por baixo da ponte e a tentar encontrar o caminho. Mesmo antes de abrir os olhos, já sabia que o dia amanhecera envolto na névoa densa. É sempre assim em dia de neoveiro. E eu adoro esses dias. É um acordar mágico, tal como é acordar com o sino da igreja. Dá-nos aquela sensação de viver num filme...

Tinha de me levantar e ir para Almada onde deveria estar por volta das nove num Congresso Internacional de Educação Especial.

Confirmei, de facto, o nevoeiro denso e mágico que nos deixa sós no mundo e nos permite um maravilhoso silêncio. Como se o mundo precisasse de ficar calado para se orientar no espaço. Há sempre uma qualquer magia no nevoeiro. Ficamos ali a olhar o espaço que não existe, o caminho que se adivinha à medida que vamos avançado e parece que a qualquer momento poderão surgir do nada, finalmente, fadas, duendes, gnomos...e que podemos, finalmente, perdermo-nos nesse mundo que nos acompanha desde a infância.

Depois, já no carro, a magia revelou-se ainda mais quando,ao atravessar a ponte sobre o Tejo, achei que estava a pairar sobre Lisboa... nada se vislumbrava em volta ou em baixo. Era como estar a guiar o carro suspenso no nada e olhando apenas umas luzes à frente.

Lisboa estava literalmente desaparecida por baixo de mim. E assim fui imaginando que pairava suavemente sobre a nossa cidade que envolta na névoa dormia ainda...

sexta-feira, novembro 27

Dia de alma azul...

Azul

É azul o meu sonho
Azul de mar que embala
Azul de céu sem limite


É sonho acordado
pensar que vagueia
gota de água que desliza


É azul o meu sentir
vasto e incerto 
pincelado da tua mão


Lona azul que esvoaça
Azul de rede ao sabor do vento
Azul de olhar perdido


Azul de melodia 
marca que me dirige
Azul de mim.

quinta-feira, novembro 19

Lugares


Há lugares que não têm espaço físico.  
Sem mapa, sem indicações, acarinham sonhos e memórias.  
São lugares do nosso olhar, instantes guardados nos bolsos. 
São momentos e histórias. 
São apenas registos de nós mesmos.

Partilha

Partilha de olhares, é partilha de sentimentos.
Partilha de instantes, é partilha de momentos.
Partilha de imagens é partilha de pensamentos.

Assim partilho o que vou sentindo, vivendo e pensando.
Assim me partilho...

sábado, novembro 14

...

Silêncio é fazer de nós uma reserva

quarta-feira, novembro 11

Instantes

Sinto:

Que ainda há uns dias me tentava despedir do Verão.
Que o calor tardava em ir deixando por aí o sentimento paradoxal de estranheza e agrado.
Que me custava ganhar velocidade e dizer "até depois" ao morno dos dias.

Sinto que:

Num ápice, a manhã fria gera bafo no ar,
há folhas revoltas no vento e no chão,
a cidade ilumina-se mais cedo,
o regresso a casa é quase escuro.

Hoje dei conta que é S. Martinho e Novembro corre.
Num repente... descobri que há castanhas, aromas de Outono e ritos de vida imutáveis.

E fiquei assim... percebendo que ainda nem dei conta das romãs, dos dióspiros, das tangerinas,
do chá e dos scones,
das mantas e cachecóis,

A sentir que este regresso me faz sentir como que na ponta de um elástico
que ora puxa, ora larga disparando-me.

E que, acima de tudo, não há tempo para ter um pouco de Outono!

domingo, novembro 8

Sons de Novembro

Som da água que cai do céu e se espraia no quintal. 
Som da água que, no seu caminho descendente, tropeça nos degraus da casa, no varão da varanda, nas folhas do limoeiro. 
Som do vento que embala a água no chão, a empurra para a rua e a faz rodopiar com as folhas caídas e adormecidas na calçada. 
Som do espanta-espíritos. Intermitente em função do vento e das gotas que com ele dançam. 
Sons de Novembro que deixou Outubro lá atrás. 

Luz de Novembro no Sotão (1)


Sons de Novembro no sotão (2)


Sons de Novembro no Sotão


(Re)encontro V – Sabor a presente



E tem destas coisas a vida.
Do tempo que se encurta, unindo passado e presente, nasce um espaço novo de partilha. Do tempo que, num ápice informático, reúne corpos, recordações e histórias, nasce um caminho feito de presentes. Aos poucos as sombras da infância esfumam-se moldando os traços dos rostos, os movimentos mais maduros dos corpos, o olhar mais baço cheio de vida. E surgem almas crescidas, vividas. E surgem perguntas sobre o amanhã em cima das histórias de ontem. E os fios, tecidos entre a infância e o dia presente, entrelaçam-se, fazem nós, viram caminhos e mudam de direcção.
Com eles vou indo, no embalar de relações (re)feitas, da curiosidade da descoberta, da vontade de partilhar esses fios da teia que foram a minha vida e são agora também a vossa.
No presente, vindo do passado e para o futuro. 
Fios de teia, laços de orvalho. 
Redes da vida.


terça-feira, novembro 3

Fio invisível



Queria ter um fio invisível ao qual a vida tivesse atribuído o encantamento de poder puxar para o pé de mim aqueles de quem gosto e estão longe. Assim, guardado na minha mão ou no bolso, enrolado e secreto, serviria para, nos dias como o de hoje, ser lançado no espaço e na volta trazer-te a ti, ou a ti, ou a ti. 

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