segunda-feira, outubro 5

Contributo Científico VI – Os resultados (cont.)

Após a primeira leva de resultados, fiquei a olhar as séries de números. Senti, desde logo uma pontita de nostalgia… O quê, já estava a terminar? Não haveria mais nada escondido por detrás das séries numéricas?
Costumamos comentar que nas fases finais da pesquisa há uma tendência para enrolar, mastigar de novo os dados, preguiçar em volta deles e a certa altura parece mesmo haver uma dependência que nos leva a protelar o fim do estudo. Racionalmente inexplicável, acontece quase invariavelmente que o fim não chega, que nada está como queríamos e que ainda há mais a espremer utilizando essas coisas que se chama estatística.


Aconteceu. No fundo acho que não me apetecia despedir de vocês, ali transformados em números e tão à mercê de poder juntar-vos, separar-vos, apresentar-vos uns aos outros. Não me apetecia perder a oportunidade de manter aberta a janela da base de dados, onde alinhadinhos e sossegados estavam os meus amigos. Todos tão perto…


Mas para avançar faltavam-me dados. Que mais poderia eu saber de vós? Decidi então inserir três novas variáveis nesta pesquisa: a profissão, o estado civil e de novo o número de amigos mais de uma semana passada sobre a primeira recolha.


Claro que estarão a pensar que haveria coisas bem mais interessantes para saber sobre vós. Mas recordo que este é um estudo sério, e que necessita de dados concretos, palpáveis e acessíveis. Assim, deixo para outro tipo de pesquisa – quem sabe me dedico a algum estudo de caso? -  dados mais qualitativos.


A estatística diz-me que tenho um leque de amigos com profissões muito variadas (a maioria dedicados a profissões da área da educação e psicologia, vá se lá saber porquê). Diz-me também a estatística que a maioria (40%) está casada, ainda que os solteiros representem 30% do total da amostra. Nada mais natural quando se tem por amigos  - o que é um privilégio – jovens licenciados que foram meus alunos e que naturalmente se transformaram em amigos.


No entanto tenho de vos confessar que a recolha deste dado não foi feita através da informação que disponibilizam nas vossas páginas. Esta variável enferma de um mal comum em investigação que se chamam “valores omissos”. Se tivesse sido rigorosa nesta recolha o número de valores omissos seria de tal ordem que não a poderia utilizar. Abstenho-me de comentar porque se omite o estado civil… esquecimento óbvio e pouca funcionalidade do facebook bem visto.


O mais curioso é que continuo sem a possibilidade de vos dizer, claramente, de que depende ter mais ou menos amigos. “Profissão” e “Numero de amigos” e “Estado Civil” e “Numero de amigos” não apresentam quaisquer valores de correlação entre si (e para os mais incrédulos a quem custe acreditar que eu tenha mesmo correlacionado estes dados posso dizer que o Coeficiente de Pearson é de 0,315 para o primeiro caso e 0,66 para o segundo. É sabido que um coeficiente de correlação varia entre 0 e 1 e que mesmo 0,35 é uma correlação muito fraca). Enfim, não é por aqui que vamos lá…


Verifiquei também que numa única semana tenho mais 5 amigos. Foi uma boa semana, cinco novos amigos é muito bom. Mas há quem tenha a capacidade de fazer numa semana quase 50 amigos. Puxa!!…


Digo-vos mesmo que como grupo vocês são fantásticos neste plano. Acontece que entre o numero que amigos que cada um de vós tinha há cerca de uma semana e o número que tem hoje se verifica uma diferença estatisticamente significativa (de novo para quem ache que invento: t=5,335 com p=0,00). Explico de forma muito operacional – e terão de confiar e mim – sempre que o valor do p é <=0,05, então as duas séries de resultados são estatisticamente diferentes. Isto quer dizer que todos vós, enquanto grupo, são muito rápidos a fazer amigos, pois numa semana o número de amigo aumentou de forma significativa.


Cresceu o meu e o vosso universo de amigos. Em número pelo menos. Como e porquê, não sei.. São as limitações deste estudo. Nada me permite dizer-vos porque é que há uns que ainda mantêm os seus 7 amigos iniciais e outros  - que tinham já um elevado número dentro das centenas - ainda mais têm agora… será que amigo, puxa amigo? Só um outro estudo, com outra metodologia me ajudará nisto.


Este por aqui fica. Terá de ser. Há sempre um momento de corte em que humanamente imperfeita a nossa obra finda. Os dados estão todos lançados, os números expostos, revirados, reformulados, até.


Como vos expliquei para concluir é bom que me afaste um pouco. Que feche de vez a base de dados, que reveja o que foi escrito e que, dentro de mim possa perceber o que significa afinal ter 96 amigos. No entanto há algo nesta fase que se torna perigoso. Na verdade não podemos deixar de nos basear nos dados e ainda que seja a fase mais empolgante pois que nos permite criar e raciocinar em volta dos números, não pode distorce-los.


E para isso me afasto agora, para depois me dedicar a concluir. 

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