quinta-feira, outubro 29

Outubro em Lisboa


Na Faculdade de Psicologia - 29 de Outubro 

terça-feira, outubro 27

Pedaços de Outono

Pedaços de Outono 
por aí andam, à espreita. 
Devagar se insinuam 
como se da época não fossem.


Tímidos e serenos surgem em cada dia em que o Verão, 
esse eterno amante ardente, não vai, não se despede da terra. 
Inquieto este balanço entre a despedida e a vinda,
 instável esta passagem entre ardor e serenidade 


E o Outono, a romper, a tentar,
deixando pedaços de si para quem olha 


E o Verão que tarda na despedida 
a soltar aroma a desejo, 
a envolver o espaço em pó de calor
em nuvens de sonho. 


E eu, um pouco perdida 
no equilíbrio de aceitar 
a ida de um 
e a tímida chegada do outro!...







Pedaços de Outono - Carcavelos, 2008 (2)


Pedaços de Outono - Carcavelos, 2008


Pedaços de Outono - Minho, 2009


Pedaços de Outono, Rio Douro 2007


Palavras & Imagens IV

Poema


São palavras com música.

domingo, outubro 25

Coisas de ser criança (1) - Pensamentos na minha cabeça (a propósito das dificuldade em dar atenção).



Todos os dias me acontece: A mãe chama:


- “Lourenço, vem tomar o pequeno almoço”. Lá ao longe eu ouço a voz dela. Sei que devo ir e encaminho-me corredor fora para a cozinha. O corredor é grande. A direito segue o caminho. Quantos passos acham que dou para lá chegar? Vou tentar adivinhar… ora, o corredor tem cerca de (acho eu que só tenho 7 anos e ainda não sei medir) 3 metros. Se cada um dos meus passos medir cerca de 20 centímetros (ouvi esta dos centímetros no outro dia ao senhor Manuel, quando veio cá a casa colocar o rodapé no corredor… deve ser isso mais ou menos o que mede um pé que calça o 25), então… deixa ver… bolas, acho que não consigo descobrir isto.
-  “Mãe… quantos centímetros tem um metro?”
- “Lourenço, por favor, já te disse, vem tomar o pequeno almoço”.
- “Sim, mãe, mas quantos centímetros tem um metro”.
- “Por favor, Lourenço, porque é que isso é agora importante?. Está bem, tem 100. Agora despacha-te”.
“Boa, se tem 100 e o meu pé 20, então …. Já sei chego lá em 15 passos.”.
Outras vezes é assim:
- “Lourenço, tens 7 anos e és sempre o último dos teus irmãos a vestir a roupa para ir para a escola. Como é possível que uma criança de 5 e outra de 2 sejam mais despachados do que tu”?
- Desculpa, pai. Estava aqui a  pensar que …
- Vá lá, Lourenço, veste-te. Senão vamos atrasar-nos…”
- Sim, pai.
O que me acontece, eu não percebo. Os meus pensamentos são muito fortes. Misturam-se cá dentro a fazer contas, a imaginar viagens e a calcular como é que as coisas acontecem na vida real. Por mais que me esforce, os pensamentos não vão embora. Vivem no meu cérebro e fazem imenso barulho quando tento não lhes dar atenção para ouvir o que o pai ou a mãe me pedem. Na verdade, sempre que me pedem alguma coisa, estes meus pensamentos ficam a ouvir o que eles dizem e logo têm ideias que me obrigam a ficar a pensar nelas e a esquecer-me de fazer o que me pedem.
Gosto de pensar. O mundo á minha volta está sempre a enviar-me mensagens. Ora são os carros que passam e me ponho a fazer contas de quantos são os azuis, ora são as escovas de dentes que se alinham com os copos e as pastas e me pedem para ver o que resulta se multiplicar uns pelos outros, ora são as lâmpadas do corredor que gosto de dividir em grupos iguais. Muitas das coisas que vejo me fazem pensar que posso fazer contas com elas: somar, multiplicar, dividir… E eu gosto de fazer contas. Gosto de ver que o mesmo resultado pode ser atingido de diferentes formas e imaginar quantas mais maneiras há de ir ao mesmo resultado. E quando fico a pensar nisso esqueço-me do que me acabaram de pedir.
O meu mundo está cheio de números. As coisas transformam-se sempre em números, mesmo que eu não queira. Tudo se pode somar, ou subtrair. Tudo se pode multiplicar e transformar num outro número. Basta apenas pensar um pouco sobre isso. Gosto mesmo porque sei que os números se podem transformar naquilo que queremos e podemos fazer imensas histórias com eles. Os números são como as minhas peças de LEGO. Alinham-se, encaixam-se, transformam-se. E há sempre um qualquer resultado. Depois, os números são previsíveis. Ainda que possa brincar com eles, sei sempre no que vai dar. E pensar sobre isso é muito giro.
Sei que por vezes pareço estar distraído. Que não faço o que me pediram. Que me atraso. Que me esqueço de vestir as camisolas e as calças. Que sou sempre o último lá em casa. Que o pai e a mãe ficam  tristes, com aquele ar surpreso a olhar para mim como quem pergunta onde estou. Sei tudo isso.
Mas gosto muito deles. Do pai, da mãe e dos meus manos. São 4 e comigo 5, lá em casa. Tão simples: 4+1=5. E este 5 é a minha família. Pois, a vida são números, a minha cabeça são números a ferver e quando fervem tenho de fazer alguma coisa com eles.
Pai, 1 abraço para ti; Mãe, dois longos beijos com muito amor; Mano, 3 chupas que és guloso; Mano Pequeno, 4 chuchas para não chorares. Ao todo 10 coisas boas para a minha família…


Lourenço


Escrito em 16 de Outubro de 2009

quarta-feira, outubro 21

Palavras & Imagens III


Futuro
É o tempo que fica para além do ponteiro dos segundos



Palavras & Imagens II

Segredo
É o bocadinho de papel que me enviaste durante a aula, guardado no bolso dos calções. 





terça-feira, outubro 20

Palavras & Imagens

Alma
É a sombra que aparece no chão, quando o sol está por trás de nós. 






segunda-feira, outubro 19

Outono, hoje.

Não sei se foi definitivamente mas parece mesmo que o Outono chegou. Se há alguém que sonhou que isso pudesse não acontecer, por um qualquer passe mágico do mundo e da natureza, fui eu. Adoradora do Verão, tento sempre esticar o tempo e viver os restinhos dessa estação até ao fim. Mas confesso que fiquei, senão feliz, pelo menos serena com a frescura, a luz mais ténue, o vento suave. Há momentos em que é mesmo preciso que a natureza nos indique o caminho e em que temos de nos deixar ir nos sinais que ela nos dá. 


Hoje foi um dia assim. 

domingo, outubro 18

Do dicionários dos sentimentos (10)

Desconfiança
É quando o nevoeiro caí de repente e nos faz andar muito devagar


Medo
É uma corda que nos ata as mãos, uma mão que nos aperta o coração

Onde se guardam os sentimentos

Costumo pensar que tenho um lugar para os meus sentimentos e para as pessoas que a eles associo. No coração, que invariavelmente se divide, tenho o cantinho das minhas filhas. Ali, logo, naquele pedaço tão acessível e terno que todos os dias se remexe ao ve-las mudar, crescer e voar. Nele tenho também o canto do Raul. Um canto enorme, mutavel e imutavel em tão diferentes coisas. Mil cantos tem o meu coração. Misturam-se, sem dúvida, em vez de se compartimentarem e alojam rostos queridos. Sei bem onde visitar cada um e conheço o odor que até lá me leva. Nos olhos, a tristeza. A que se espelha de dentro para fora e a que me invade de fora para dentro. Neles se aloja, se lava e se renova na esperança que lhes devolve o brilho. Nas mãos a vontade. O desejo forte de construir. Nelas deposito os meus pedaços de querer em cada dia e delas deixo cair grãos de cimento e areia que se moldam e encaixam deixando abertos caminhos. No estômago, aqui bem no centro de mim, o medo, a insegurança, a incerteza. Quantas lutas de apertos tem este centro com as minhas mãos que teimam ignora-las e fingir que sabem bem quais os grãos de areia que devem, em cada momento, ser deixados no caminho. Nos ombros, as palavras sábias dos meus pais. Aquelas que hoje se confundem com a responsabilidade de ter criado vida, de ter criado uma vida em torno de mim e de ser por ela responsável. Quantas vezes não consigo mante-los erguidos... Na boca a minha defesa. Porque dela me saem os pensamentos, se estrutura o meu racciocinio e se reproduz tudo o que dentro sinto. Organizado, coeso, com sentido. Mesmo quando dentro o tal aperto no centro do corpo doí e queima. No colo, bem aninhadas, as memórias. Outras, nos braços, que com o colo se juntam e protegem o que passou, deixando aquele sabor e cheiro a recordação feliz. Só há um sentimento que não consigo alocar. A desilusão. Não é tristeza e nos olhos não fica. Não é medo e não se espeta no centro de mim. Tão certeiro é e tão fulminante que não lhe encontro espaço para poder geri-lo. Acho que me fica, algures, na garganta, até ser capaz de lhe dar um sentido e depois... depois transforma-lo em qualquer outro sentimento com lugar e sitio próprio.


Texto escrito em Agosto de 2009

Do dicionários dos sentimentos (9)

Tristeza
É chuva a cair dos olhos sem conseguirmos que páre


Felicidade
É um salto bem alto, um balão cheio de ar na nossa barriga e a certeza de que somos capazes de voar

Do dicionários dos sentimentos (8)

Raiva
É um estrondo grande nos ouvidos, um grito muito alto e um murro no ar

sábado, outubro 17

Do dicionários dos sentimentos (7)

Ansiedade
São os minutos que não passam e o tempo que não anda quando temos alguém ou alguma coisa á nossa espera

Do dicionários dos sentimentos (6)

Intuição
Somos nós, a ir em frente sem saber muito bem porquê
Pressentimento (bom)
É uma ideia que vem sem sabermos de onde e que temos muita vontade de seguir

Do dicionários dos sentimentos (5)

Preocupação
É um pensamento que faz barulho e não sai do sítio

LIBERDADE


Do dicionários dos sentimentos (4)

Razão 
São palavras na nossa boca que saem tão alinhadas que toda a gente nos percebe  


Racionalidade 
São os nossos pensamentos a fazer contas de somar, a dar sempre certo, mas sem cheiro, sem cor, nem calor

sexta-feira, outubro 16

Do dicionários dos sentimentos (3)

Indecisão
É um jogo de balançar que nos pendura entre duas coisas que gostamos muito

quinta-feira, outubro 15

Do dicionários dos sentimentos (2)

Dúvida

É a parte escura daquilo que sabemos

quarta-feira, outubro 14

Do dicionários dos sentimentos

Saudade

É o branco na nossa mente, quando antes estava lá uma imagem muito querida. É um remoinho que se instala no nosso coração.

terça-feira, outubro 13

A propósito de um dia de Verão no Outono

Sempre achei que o Verão nos desarruma os sentimentos e que o Outono os arruma de novo, dando espaço aos pensamentos. O que fazer quando o Verão vem no Outono?

segunda-feira, outubro 12

Série - Coisas de Mim - (Re)encontro com a Amizade a propósito de outro lanche de amigas

Há momentos em que o universo se une para nos dar a certeza de que a vida é uma linha que não se quebra e que, mesmo invisível, nos suporta e nos guia na direcção certa. Assim me senti, ontem, perante uma imensidão de rostos que, num ápice de mágica estão hoje, ora pintados, ora adornados, ora marcados pelos percursos que não partilhei. Num fugaz momento a vida encolheu e em vez do elástico, do jogo do mata, da apanhada ou da “linda-falua”, a conversa era intensa, os olhares surpresos na procura do rosto de outrora, os movimentos sedentos de que a memória não nos atraiçoasse na descrição dos momentos partilhados. Intenso fim de tarde, preenchido de risos, fotografias a preto e branco, memórias, momentos. Intenso fim de tarde, (re)preenchido de novas vidas, percursos feitos, novas promessas de ser e estar. Intenso fim de tarde, vivido na expectativa de que não me tivessem esquecido, de que o abraço fosse mesmo forte e doce, de que a proximidade não nos incomodasse. Incrível mesmo como o universo conspira para que vida tenha um sentido coerente e para que cada coisa vivida, faça eternamente sentido sem que seja para isso preciso repeti-la. Incrível este sentimento de pertença, este sentir certo de que existem no mundo pessoas a quem podemos chamar amigas, mesmo quando se abriu na vida quotidiana um abismo de anos sem partilha. Incrível sentir que o que foi ainda é. E que tranquilidade me traz. 

Série - Coisas de Mim - (Re)encontro com a Infância a propósito de um lanche de amigas

A tarde de ontem foi mágica. Ainda que planeada e combinada a magia só surgiu no reencontro físico. Rostos tão conhecidos e naquele momento relembrados. Gestos únicos em corpos mais pequenos e franzinos. Movimentos familiares em espaços que já não partilhamos. Histórias que foram nossas sim, mas de um outro "nós", guardado algures na alma e que, num repente, nos salta para o colo, tão vivo que até assusta. A Magia fez-se de recordações. De caminhos divergentes. De vidas separadas há muito. A Magia fez-se da união e dos laços que só a infância permite, dos momentos especiais que só a amizade oferece. A magia fez-se do verdadeiro viver da palavra AMIZADE. Aquela que, passados quase mil anos e uma vida inteira, nos permite rir, estar solto, trazer de novo à vida, recolher e partilhar, como se o dia antes de ontem fosse dia de jogar aos "polícias e ladrões", ao "mata", ao "futebol humano". A tarde de ontem foi mágica. Na magia de puxar a vida, através do tempo, e te-la, ali nas mãos, nos olhos, nas palavras, nas promessas de mais tardes mágicas. Obrigada Rita, Mabi, Inês e Sofia pela magia viva que me deram ontem.


Escrito em 14 de setembro de 2009

Série - Coisas de Mim - (Re)encontro Comigo a porpósito da leitura do meu diário

Reler um diário com 27 anos, escrito por nós mesmos é uma experiência única. Nas palavras escritas reencontramo-nos como nunca nos vimos ou ouvimos. Nas frases reconhecemos alguém que fomos e que está lá, em tudo o que somos. Nos momentos revivemos vidas arrumadas nos cantos das nossas emoções e descobrimos pessoas que no presente nunca existiram. Não é só recordar. É reencontrar. Reencontramos pessoas do coração e revivemos a nossa própria vida, pairando qual anjo da guarda, reconfortando as tristezas e saudando as alegrias em palavras depositadas. Tempo único, este dedicado a lermo-nos. Tempo que nos baralha a vida, que nos transporta e (re)transporta, espaço de intensa união connosco. Tão assustador, quanto reconfortante pela ida e vinda no tempo, a leitura de um diário de uma menina de 15 anos – que sou eu mesma – permitiu certezas, fundações revistas e cuidadas  - antes que se desfaçam nas labirínticas armadilhas da memória -  desejos e apaziguamentos. A todos (talvez mais todas, que isto de diário é coisa de menina…) aconselho. Curioso é que já tinha tentado faze-lo antes, sem sucesso ou interesse. Na verdade, os momentos acontecem quando têm de acontecer. Não são coincidências. São sincronicidades que nos transformam a vida a cada dia que passa. 


Escrito em Agosto de 2009

sábado, outubro 10

Série - Coisas de Mim (I)


O universo conspira sempre para nos proteger.



Há momentos em que sinto que a minha vida é como um caminho invisível onde passeiam todas as pessoas que fizeram a minha história. Como se caminhássemos num denso nevoeiro, distraídos com o medo de nos perdermos. E – por vezes tão repentinamente que acreditamos ter mesmo um anjo da guarda, que nos lê a mente e o coração – o nevoeiro dispersa, rarefaz-se e a vida transforma-se. Nesses momentos, pressinto e posso ver que nunca ninguém se foi verdadeiramente embora. Percebo que há efectivamente um fio – também ele muito ténue – que se pode puxar e receber perto de nós aqueles que pensámos estar definitivamente longe. São momentos muito intensos em que revivemos relações e espaços de partilha que deixaram de ser comuns. Mas são os mais especiais momentos da vida, pois permitem-nos (re)descobrir quem somos, (re)fazer relações, (re)construir esse mesmo caminho. Há que estar atento, porém. Há que desejar que isso aconteça. Há que viver a surpresa de tal dádiva da vida e serenamente puxar o fio que liga o passado ao futuro, para fazer o melhor presente que se pode ter.

Série - Coisas de Mãe (IV)

Conversas à mesa - em Agosto de 2009


À volta da mesa, depois do almoço. Somos muitos: grandes (uns adultos e outros a caminho disso), médios, pequenos e bebés (sim, também conversam…). Fala-se do futuro. Futuro imaginado, desejado para cada um deles. Desejado por nós, os grandes já adultos, que os olhamos daqui do futuro que é o deles. Eles (todos), entrando na conversa. Animados com a ideia de ter um futuro desejado por alguém. E como é importante ter quem deseje um futuro para nós e nos projecte, qual foguetão, numa ida e vinda rápida ao mesmo. Os futuros estão ali, em volta da mesa, nos risos trocistas e nos olhos brilhantes que dizem: “E se pudesse ser verdade?”. Mil futuros que se coordenam, se encontram lá para a frente no tempo e se transformam em histórias de poder continuar juntos. E assim se tecem desejos.
O futebolista, imaginado a partir dos fabulosos pontapés que dá numa bola minúscula, com o seu pé pequeno e gorducho de bebé de ano e meio; o alpinista, assim imaginado porque se passam tardes inteiras a apanhá-lo suspenso no ar ao subir (ou melhor, descer) as rochas da praia; o médico, profissão que saltou uma geração, e se deposita naquele que achamos tender para as notas brilhantes; o surfista profissional, apresentador de um programa desportivo e secundado pela artística fotografia da prima mais velha; o político, para aquele que ainda não se revelou bem para além de ser um exímio falador aos dois anos; o gestor para o jogador ímpar de entre todos; um lugar, algures na comissão europeia, para a catraia que gosta de mandar; o advogado, porque toda a família precisa de um e tem de ser um que siga as pisadas dos pais; a pintora, agora a mais sensível e futura criadora de ilusões em tinta; o cantor, não porque cante no presente, mas porque nos enche a alma (e o cérebro) a chamar pelo pai; o “chef de cuisine” para o menino sonhador cuja sensibilidade nos encherá a vida de aromas e sabores e finalmente, mas não por fim, a escritora, que tanto brinca com as palavras, a atribuição da responsabilidade de as escolher, certas e certeiras e por no papel histórias de cada um e todos nós.
Conversas. Felizes. Daquelas que se têm com quem gosta de conversar. E como são importantes os sonhos partilhados. E como é importante ter quem sonhe para nós e ter com quem sonhar o futuro.
Obrigada: Catarina (fotografa), Henrique (surfista), Gonçalo (médico), Maria (escritora), Mateus (gestor), Afonso (advogado), Mariana (pintora), Rita (comissão europeia), Vasco (”chef- de-cuisine”), Francisco (cantor), Duarte (político), Miguel (alpinista) e João Miguel (futebolista) por existirem na minha vida.

Série - Coisas de Mãe (III)

A Adolescência e o furacão - em 28 de Julho de 2009


A adolescência é como um furacão.
Há avisos, é verdade, mas só nos assusta quando chega.
Pode prever-se, mas na verdade quando ali está pouco nos protege de a/o viver.
É inevitável (a adolescência), não vale a pena esperar que passe ao largo (o furacão).
Podemos planear formas de minimizar as suas consequências (no furacão), mas muita coisa vai voar (na adolescência...).
A adolescência é como um furacão que cresce dentro e se vê cá fora;
voz alta, voz crescente, zangas, fúrias com tudo e todos, ímpetos, palavras soltas e perdidas, caos, choro, tristeza, sensibilidade, silêncio...colo de mãe...
Como se enfrentam (os adolescentes e os seus furacões)?
Não se enfrentam... vivem-se, acolhem-se e espera-se que os furacões da adolescência vão passando e em cada um deles algo se aprenda de novo

Série - Coisas de Mãe (II)

Mia - em 26 de Julho de 2009


Olho para ela. Espanto-me de segundo em segundo; a postura mudou, o andar mudou. Estende-se tranquila na areia da praia, pergunta se quero ajuda para por o protector solar e espreguiça-se com prazer ao sol. Está crescida! Nos seus 10 anos cresceu e pressentem-se as mudanças que se seguem. Conversa tranquila e pega no seu livro absorta na história. E eu, observo, pasmada com os factos de já quase não caber no meu colo, não querer fazer castelos de areia, nem trazer balde e pá para a praia. Está linda e tão tranquila esta miúda que me pasma o que o tempo pode fazer sem darmos por isso!

Série - Coisas de Mãe (I)

Relato de uma tarde que terminou à noite - quarta-feira, 29 de Julho de 2009


Acabei de me sentar, exausta de uma tarde prometida que se transformou em inicio de noite surpresa. De uma tarde passada com três miúdas de 10 e 11 anos. Este relato é o meu. Coisas de mãe...
Duas e meia. O (re)encontro) das três após, não sei, talvez, uns cinco longos e gigantes dias sem se verem.
Elas: (Abraço a três. Beijos. Risos. Saltos.)
- Que t-shirt gira... É nova? Estás bué queimada!Estiveste onde?
Eu. (Sentada, à espera que o abraço terminasse e se lembrassem que tinhamos de ir andando.)
Elas:( No carro, lá atrás... Mais risos... nem sei de quê).
- Mãe põe a música mais alta. Gosto bué desta! "Lucky I´m in love with my best friend, lucky to have been where I have been..." Cantam... alto e em coro.
Eu: (enfim, mais vale cantar com elas.
Afinal também gosto bué desta). Mas... "lucky i´m in love with my best friend"? Mas elas sabem o que cantam? Por favor, têm 10 anos... pelo menos a minha tem...
Elas: (risos, mais ainda, cristalinos e sinceros.)- Dá cá o telemóvel. Deixa ver o que ele te disse.
Eu: (a tentar concentrar-me no caminho para o Zoo). - Meninas por favor podem não gritar? (O quê? ELE??? Mas ELE quem? De que telemóvel falam elas? Do da minha?)
Elas: (chegadas à porta do Zoo) - Mãe podemos ir ver os golfinhos? e andar no teleférico? e comer um gelado?
Eu: (Qual foi mesmo a primeira pergunta?) Sim, Sim Sim ( a pensar que hoje é dia da Palavra SIM... o prometido é devido!).
Elas: (a correr, caminho fora, de mãos dadas. Como conseguem elas correr assim como se de uma só se tratasse?) - Anda , mãe...
Eu: (Lá atrás, devagar que isto de ter 42 anos não me dá mais velocidade. O que eu precisava mesmo era de uma massagem nas costas). - Sim, estou aqui. Decidam vocês o percurso.
Elas (sempre a rir... como podem não parar de deitar cá para fora tanta felicidade? Meu Deus, de onde vem tamanha energia que se sente no ar em volta das três?). - Olha o macaco parece o ....
Eu: (já não oiço o nome... mas pelos olhares em volta, os risos e a cara do miúdo ali ao lado, percebo quão terríveis podem ser estas criaturas de cabelos soltos ao vento, sorrisos francos e olhares brilhantes; terríveis mesmo na sua confiança de ser menina).
Elas (no teleférico, finalmente separadas em dois...) - Olha ali... (mais risos... de tudo se riem as catraias). Olha, parece--- (risos de novo abafados). - OH! caiu a garrafa lá em baixo!
Eu (Que lindo! Bem lhes disse que a garrafa ia cair...) - meninas, vá lá, deixem-se de disparates!
Elas (sentadas enfim, braços dados, numa união que não se desfaz. Encostadas, todas três a si mesmas. Lindas estas miúdas! Bela Foto!) - Mãe, quero um beijo do Leão Marinho (e descem para a fila debaixo, mesmo quando o tratador tinha pedido para ficarem quietas no lugar).
Eu (que me posiciono para as apanhar as três na foto). Afinal foi a mim que o Leão Marinho pespegou um beijo malcheiroso.
Elas (já de regresso ao carro) - Mãe. A Teresa e a Joana podem jantar connosco? (olhar suplicante, de todas, as três de novo num gesto uníssono e inegável)
Eu: (Mas porque decidi que hoje era dia de palavra SIM?) - Sim, podem.
Elas: (mais saltos, corrida a um só corpo, e risos e mais risos). - Aí que agora vamos buscar a minha irmã que vai já implicar...
Eu (enfim espero que não aconteça e que se calem um pouco quando a adolescente entrar neste carro) - Meninas, podem agora rir mais baixo?
Elas: ( que continuam a rir...) - Vamos jantar onde? Pizza?
Eu (enfim...). - Tudo de acordo? Então seja.
Elas (agora não riem... por segundos breves) - Pai, chegaste!
Eu (finalmente um Homem para ver se isto se compõe) - Olá!
Elas (no sofa da pizzaria, perna cruzada, encostadas entre si, como sempre num todo único de beleza juvenil): - Tu, Eu, Ele, isto, Aquilo ( uma conversa entrecortada pelo riso e gargalhada)
Eu (já a pedir cama, claramente): - Vamos meninas!
Elas (numa ultima paragem numa loja de roupa... PERIGO, mas tinha de ser assim o final deste dia) - Mãe, olha esta, vou provar. prova tu esta. que gira! serve-te? fico bem? e esta?
Eu (estoirada,encantada,fascinada, orgulhosa) - Vamos, meninas. São horas.
Elas (no carro. calmas agora, olhos a fecharem e cabeças a cambalearem, para cima umas das outras)
Eu: (bem dita Lisa Ekdal. "it´s oh so quiet!")
Elas (neste momento. cada uma na sua casa, na sua cama, nos seus sonhos que muito provavelmente se encavalitam algures, saltam juntos, riem em uníssono e correm de mãos dadas).
Eu (aqui a relatar o meu dia. Belo. Único. Que privilégio partilhar momentos com estes três seres fantásticos que me mostram que o melhor de tudo é mesmo viver a nossa vida com aqueles que mais amamos! Do coração! Da alma! Os amigos

Nota do dia

Muitos dos textos que aqui coloco, foram escritos nos últimos meses e publicados na minha página do facebook. No entanto permitam-me dizer que aqui ganham uma nova solenidade. Como se agora é que fosse a sério.

segunda-feira, outubro 5

Série - Contributo Científico

A série de textos que se segue foi por mim publicada no Facebook, a propósito de uma ideia de "estudar" o facto de termos todos um número tão variado de amigos. A eles (os meus amigos no Facebook) dediquei esta série que agora (re)publico para um outro público

Contributo Científico VII – Discutir resultados, concluir. A magia da ciência

Recordo aqui a pergunta de base: “O que significa ter 96 amigos? Ou 104 antes de retirados os amigos de natureza “colectiva”?


In(conclusão)  nº 1 - Ter 96 amigos é estar um pouco abaixo da média, já que esta  - no meu universo de amigos, bem visto - é ter 109 amigos. Dado que o desvio padrão desta variável é 10,77, posso dizer que estou mais de um desvio padrão abaixo da média (109-10,77=98,23). Diz a estatística da normalidade que só sai das “normas” aquilo que está para além de um desvio padrão e meio da média. UF… ainda estou nessa fronteira, normalmente designada de limítrofe ou “borderline” o que me coloca fora da clara atipicidade, neste caso abaixo da média…


Duvido porém da qualidade destes dados. Apesar de fugir à média, tenho dúvidas que os meus 96 amigos sejam a uma amostra de qualidade inferior. Nesta minha pesquisa o que me deu mais prazer foi passar na página de cada um, e procurar a informação que queria ao mesmo tempo que ia “espiolhando” aquilo que escrevem e comentam, as fotos, as músicas de que gostam. Metodicamente, por ordem alfabética que 96 é muita gente.


In(conclusão nº 2) – pertenço ao grupo que tem entre 75 e 152 amigos. Ou seja ao grupo de terceiro quartil que não são aqueles com poucos amigos (o grupo 1) ou com alguns amigos (o 2), mas sim ao grupo com bastantes amigos (3). Parece-me bem. Curioso, porém, como um número, utilizado no seu valor absoluto pode significar coisas tão diferentes consoante o espaço em que se verifica. Na verdade, este número – 96 – no universo de alguns dos meus amigos ficaria num primeiro ou segundo quartil e aí representaria apenas o facto de ter poucos ou alguns amigos. Afinal 96 são bastantes ou poucos amigos? Cá por mim são mesmo 96. São 96 histórias nas minhas memórias, centenas de recordações, mil laços invisíveis que em jeito de teia criam espaços e redes de relação. São milhares de sorrisos arrancados no tempo, surpresas, (re)encontros. São 96, mas dias há em que parecem muitos mais, de tanta coisa que me deixam ficar no ecrã, de tanta vontade de lhes dizer olá, de tanta vida, ideias, noticias… São… foram 96 a quem se juntam, aos poucos, outros que espreitam, batem à porta ou que procuro no espaço virtual e como por magia surgem do passado e do presente e por aqui ficam na relação de “gosto disto”. São muitos daqueles com quem depois me cruzo, já na vida real, e com quem cruzo palavras sobre estas mesmas palavras… Se estão aqui todos? Não…


In(conclusão  nº 3) – De todas as variáveis independentes pesquisadas, nenhuma delas parece influenciar o “número de amigos”. Nem idade, sexo, estado civil ou profissão. Fico aqui a magicar o que na verdade já era de esperar. Os amigos vão entrando na nossa vida na medida da sua própria construção, na passagem pelos caminhos, nas experiências partilhadas. Posso, efectivamente aumentar o meu “número de amigos” aqui na vida virtual, sem os aumentar na vida real, mas não gostaria que assim fosse. Por cada um que aqui surge, uma história se acrescenta, uma memória se reaviva, um propósito de futuro existe. Acho que o meu “número de amigos” cresce na medida do desejo. Só não aprendi nunca na minha vida académica como se mede esta variável que se sente nas batidas do coração.


No fundo e pensando bem, acho que não queria saber o significado de ter 96 amigos, mas sim saber ao certo, se cada um deles gosta de mim… E isso não são os números que me vão dizer. Embora exija muita ciência! Por mais estudos que faça, por mais que esprema números, por mais que me inquiete, só o caminho de cada dia me dirá se ter estes 96 e outros mais é muito, pouco ou nada. Qual jogo de malmequer…


Gosto de ti: Muito, pouco, nada… muito, pouco, nada…

Contributo Científico VI – Os resultados (cont.)

Após a primeira leva de resultados, fiquei a olhar as séries de números. Senti, desde logo uma pontita de nostalgia… O quê, já estava a terminar? Não haveria mais nada escondido por detrás das séries numéricas?
Costumamos comentar que nas fases finais da pesquisa há uma tendência para enrolar, mastigar de novo os dados, preguiçar em volta deles e a certa altura parece mesmo haver uma dependência que nos leva a protelar o fim do estudo. Racionalmente inexplicável, acontece quase invariavelmente que o fim não chega, que nada está como queríamos e que ainda há mais a espremer utilizando essas coisas que se chama estatística.


Aconteceu. No fundo acho que não me apetecia despedir de vocês, ali transformados em números e tão à mercê de poder juntar-vos, separar-vos, apresentar-vos uns aos outros. Não me apetecia perder a oportunidade de manter aberta a janela da base de dados, onde alinhadinhos e sossegados estavam os meus amigos. Todos tão perto…


Mas para avançar faltavam-me dados. Que mais poderia eu saber de vós? Decidi então inserir três novas variáveis nesta pesquisa: a profissão, o estado civil e de novo o número de amigos mais de uma semana passada sobre a primeira recolha.


Claro que estarão a pensar que haveria coisas bem mais interessantes para saber sobre vós. Mas recordo que este é um estudo sério, e que necessita de dados concretos, palpáveis e acessíveis. Assim, deixo para outro tipo de pesquisa – quem sabe me dedico a algum estudo de caso? -  dados mais qualitativos.


A estatística diz-me que tenho um leque de amigos com profissões muito variadas (a maioria dedicados a profissões da área da educação e psicologia, vá se lá saber porquê). Diz-me também a estatística que a maioria (40%) está casada, ainda que os solteiros representem 30% do total da amostra. Nada mais natural quando se tem por amigos  - o que é um privilégio – jovens licenciados que foram meus alunos e que naturalmente se transformaram em amigos.


No entanto tenho de vos confessar que a recolha deste dado não foi feita através da informação que disponibilizam nas vossas páginas. Esta variável enferma de um mal comum em investigação que se chamam “valores omissos”. Se tivesse sido rigorosa nesta recolha o número de valores omissos seria de tal ordem que não a poderia utilizar. Abstenho-me de comentar porque se omite o estado civil… esquecimento óbvio e pouca funcionalidade do facebook bem visto.


O mais curioso é que continuo sem a possibilidade de vos dizer, claramente, de que depende ter mais ou menos amigos. “Profissão” e “Numero de amigos” e “Estado Civil” e “Numero de amigos” não apresentam quaisquer valores de correlação entre si (e para os mais incrédulos a quem custe acreditar que eu tenha mesmo correlacionado estes dados posso dizer que o Coeficiente de Pearson é de 0,315 para o primeiro caso e 0,66 para o segundo. É sabido que um coeficiente de correlação varia entre 0 e 1 e que mesmo 0,35 é uma correlação muito fraca). Enfim, não é por aqui que vamos lá…


Verifiquei também que numa única semana tenho mais 5 amigos. Foi uma boa semana, cinco novos amigos é muito bom. Mas há quem tenha a capacidade de fazer numa semana quase 50 amigos. Puxa!!…


Digo-vos mesmo que como grupo vocês são fantásticos neste plano. Acontece que entre o numero que amigos que cada um de vós tinha há cerca de uma semana e o número que tem hoje se verifica uma diferença estatisticamente significativa (de novo para quem ache que invento: t=5,335 com p=0,00). Explico de forma muito operacional – e terão de confiar e mim – sempre que o valor do p é <=0,05, então as duas séries de resultados são estatisticamente diferentes. Isto quer dizer que todos vós, enquanto grupo, são muito rápidos a fazer amigos, pois numa semana o número de amigo aumentou de forma significativa.


Cresceu o meu e o vosso universo de amigos. Em número pelo menos. Como e porquê, não sei.. São as limitações deste estudo. Nada me permite dizer-vos porque é que há uns que ainda mantêm os seus 7 amigos iniciais e outros  - que tinham já um elevado número dentro das centenas - ainda mais têm agora… será que amigo, puxa amigo? Só um outro estudo, com outra metodologia me ajudará nisto.


Este por aqui fica. Terá de ser. Há sempre um momento de corte em que humanamente imperfeita a nossa obra finda. Os dados estão todos lançados, os números expostos, revirados, reformulados, até.


Como vos expliquei para concluir é bom que me afaste um pouco. Que feche de vez a base de dados, que reveja o que foi escrito e que, dentro de mim possa perceber o que significa afinal ter 96 amigos. No entanto há algo nesta fase que se torna perigoso. Na verdade não podemos deixar de nos basear nos dados e ainda que seja a fase mais empolgante pois que nos permite criar e raciocinar em volta dos números, não pode distorce-los.


E para isso me afasto agora, para depois me dedicar a concluir. 

Contributo Científico V – Os resultados

Avancemos assim, apresentando os resultados.


Há que olhar aos números: Desculpem-me aqueles que se têm manifestado contra esta ideia de vos “matematizar”, mas terá de ser por aí, caso contrário vamos entrar no plano da introspecção e comecei por vos dizer que esse não seria o método escolhido.


Os meus amigos têm, em média, 109 amigos. Posso também perceber que a Moda, ou seja, o valor que mais se repete é “37” e que corresponde a uma frequência de 3. Traduzindo: 3 amigos têm 37 amigos. Como estarão já alguns a pensar, a variabilidade é imensa. “Número de amigos”é uma variável que varia “á séria” e nos “avaria” o juízo como podem constatar.
Sendo então enorme a dispersão desta variável posso juntar as pessoas e não deixar os meus amigos, assim sozinhos, cada um com o seu “número de amigos”, encontrando agrupamentos ou seja 4 categorias ou quartis:
(1 quartil) aqueles que têm entre 0 e 35 amigos;
(2 quartil) aqueles que têm entre 36 e 75 amigos;
(3 quartil) aqueles que têm entre 75 e 152 amigos e
(4 quartil) os que têm mais do que 152 amigos.


Posso também verificar que o meu amigo com menos amigos tem 7 amigos e na verdade são dois e não um. O meu amigo que tem mais amigos, tem 590 amigos e é uma “ELA” e vive do outro lado do mundo (mais não me permite a confidencialidade).


De outra maneira posso dizer que o grupo de amigos do “Colégio” tem em média 123 amigos, os amigos do “Liceu Filipa”, 176 amigos, os do grupo “Profissionais”, 94 amigos, os “Ex-alunos”, 119 amigos, os amigos de “Família”, 108 amigos e os amigos, “Amigos”, 74. São portanto os meus amigos do Liceu Filipa aqueles que constituem o grupo com maior número de amigos à sua roda pertencendo ao 4º quartil ou seja ao percentil acima de 75. Não me espanta o facto, pois sei que tenho nesse grupo verdadeiros embaixadores das relações, capazes de agregar um conjunto bem considerável de almas à sua volta. Não sei se deva deixar aqui esta informação, mas a maioria destes amigos são do sexo masculino e não tendo verificado este dado, atrevo-me a dizer que ganham aos outros grupos tendo um maior número de amigos do sexo feminino…


Adiante: existem - em relação a esta variável em estudo -  um conjunto de  dados chamados “outliers”, aqueles que não encaixam estatisticamente na distribuição. Estes são, na maioria das vezes, dados a expurgar, pois de tão diferentes, tornam as distribuições pouco fiáveis. Mas aqui não quero expurga-los. São tão importantes quanto os outros e dizem-me que dos meus 96 amigos, tenho 6 que têm tantos amigos que ficam, no gráfico do SPSS (o programa de estatística utilizado) lá em cima e são assinalados com um *, qual estrelinhas no céu a brilhar e a dizerem que felizmente, um desses amigos sou EU.


Posso também perceber que ao longo da vida as mulheres vão sendo mais representativas Verifico que é no meu grupo de “Amigos” e “Amigos do Liceu Filipa” que estão a maioria dos representantes do sexo masculino. Profissionalmente a maioria são mulheres, tal como no grupo “Amigos do Colégio”, dado que não espantará ninguém que saiba que vivi a minha vida até aos 15 anos no Sagrado Coração de Maria, colégio então quase exclusivamente para meninas.


Por fim e não querendo massacrar-vos mais com este infindável disparate, verifiquei que não existe qualquer correlação entre as variáveis “idade” e “número de amigos” ou “sexo” e “número de amigos”. Quer-me parecer que ter mais ou menos amigos não depende nem de ser homem/mulher, nem velho/novo. Dependerá, enfim, das tais “parasitas” que não controlei, por serem incontroláveis.


Olho e re(olho). Pesquiso de novo entre os números, tentando novos agrupamentos, novas associações, novas relações. Não, não me parece quererem falar mais comigo…  e, no entanto, lá estão. Iguais a si próprios – 590; 427; 413; 362; 295  - só para citar o que estão no topo da lista , são agora isso mesmo. Esta é a fase de deixar ficar… respirar, voltar ao inicio, ao texto, às palavras, às questões. É também a fase crítica da pesquisa científica. Aquela em que deverá contar a experiência, o saber e a sabedoria do investigador. A parte mais dura em que é preciso envolvimento, reflexão, e porque não, sentimento.

Contributo Científico IV – As Variáveis



Uma variável é um dado que varia. Se todos os meus amigos tivessem o mesmo número de amigos eu não poderia estar a fazer este estudo, nem o mesmo teria sentido, pois, nesse caso ter 96 amigos nada representaria a mais ou a menos do que ter o número certo de amigos que toda a gente tem… Poderíamos dizer que estaria instalada uma certa “ditadura” em torno do número de amigos de cada um. A regra seria essa o que deixaria de motivar a curiosidade e nos levaria apenas a aceitar o facto…


Num estudo as variáveis podem ser – genericamente – ditas dependentes ou independentes. A única variável dita “dependente” neste estudo é “número de amigos”. Uma variável dependente é aquela que “depende” de outras, denominadas, por sua vez, de  independentes – quem diria… esta coisa da investigação é mesmo previsível, certo? -  e que, supostamente,  interferem com as primeiras. As variáveis independentes não são objecto de análise, são os motivos, as razões. Por suposto. Sempre.


Neste meu modesto estudo “número de amigos” só pode depender da idade e do sexo dos participantes da minha amostra. De resto não foram controladas outras variáveis que possam estar a influenciar a variável em estudo. Mas existem, obviamente variáveis que não controlei. São variáveis desconhecidas, ditas parasitas. Não as controlei, pois acho incontrolável esta questão. Imagino a imensidão de factores a influenciar as escolhas de cada um. A pesquisa dessas variáveis não se coaduna com o método por mim escolhido e um dos mais importantes princípios em ciência é escolher métodos adequados aos dados que temos. Fica este assunto para outros estudos, de natureza mais qualitativa; tipo estudo de caso, diria. 


Apresentadas as variáveis, avancemos…

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